domingo, outubro 31, 2004

Olhando para cima

"Hoje o céu está mais azul, eu sinto..."

sexta-feira, outubro 29, 2004

Charles Baudelaire


Charles Pierre Baudelaire (1821-1867), poeta francês precursor do Simbolismo, autor de Les Fleurs du Mal, 1857 (As Flores do Mal). Com versos rigorosamente metrificados e rimados, que prefiguram o Parnasianismo, Baudelaire trata de temas e assuntos que vão do sublime ao escabroso, investindo liricamente contra as convenções morais que permeavam a sociedade francesa dos meados do século XIX.
Diversos poemas de As Flores do Mal foram cortados do livro como imorais, por decisão legal, num processo que só foi anulado em 1949. Na poesia de Baudelaire já se encontram traços que serão dominantes no Modernismo do século XX.

Remorso Póstumo

Quando fores dormir, ó bela tenebrosa,
Em teu negro e marmóreo mausoléu, e não
Tiveres por alcova e refúgio senão
Uma cova deserta e uma tumba chuvosa;
Quando a pedra, a oprimir tua carne medrosa
E teus flancos sensuais de lânguida exaustão,
Impedir de querer e arfar teu coração,
E teus pés de correr por trilha aventurosa,
O túmulo, no qual em sonho me abandono
- Porque o túmulo sempre há de entender o poeta -,
Nessas noites sem fim em que nos foge o sono,
Dir-te-á: "De que valeu, cortesã indiscreta,
Ao pé dos mortos ignorar o seu lamento?"
- E o verme te roerá como um remorso lento

Charles Baudelaire

The Urn


Ilustração do poema "Les fleures du mal" de Baudelaire por Edvard Munch

terça-feira, outubro 26, 2004

La clairvoyance


Renne Magritte

Através dos meus olhos

Sinto uma leveza na alma que se expande para além das fronteiras do meu corpo
e em volta dele cria um mundo onde as coisas me aparecem,
pela primeira vez, como parte integrante de um todo lógico e fascinante...
As cores que me aparecem são mais a cor que representam
e de encontro a mim pintam-me a alma de um colorido que me caracteriza.
As pessoas, a meus olhos, vestem corpos a estrear,
lavados da podridão das vidas que viveram, corpos preenchidos de alma.
É como se o mundo descobrisse dentro de mim a cor,
me soubesse perdida dele,
porque é negro...
E iludisse em mim um disfarce do real em prol do amor,
do meu amor!
E camuflado de tintas de várias cores me acompanhasse por todas as ruas por onde passo e me esperasse em todos os lugares para onde vou...
mas que assim que me foge da vista se deforma num deslavado de cores que escorrem e se sobrepõem até se tornarem de novo negro,
e eu era negro...
Caminho, entre as cores projectadas dos teus olhos que em mim pintam quadros daquilo que seremos, para te encontrar nesta representação do mundo em prol do amor...
do nosso amor!

quinta-feira, outubro 21, 2004

Lua

Olho a lua
e sei-a só tua.
Descobri-lhe dois lados:
o que está voltado para ti brilha,
o meu atirado para a escuridão.

Lágrimas

Atiro o meu corpo na noite
e desfaço-me toda em chuva;
Gotas atiradas na escuridão desta noite...

Já não sou noite

Agora as noites são mais negras...
Antes havia nelas um vazio que se fundia com a minha alma
e me envolvia, de braços dependurados, no seu abraço negro.
Éramos escuras, vazias, livres, em silêncio iguais.
Já não sou noite
e nela me confundo.
Surge-me carregada de fantasmas intemporais,
monstros de uma solidão passada
e que agora me invade e me enrige-se a carne...
o negro entra em mim
e já não me reconhece,
percorre-me e também se afasta.
Já não sou noite,
sou-te e sem ti nada tenho.

Já não sei estar só

Já não sei estar só...
O teu nome ressoa na minha cabeça
e à medida que a nossa lembrança está longe
o meu corpo revolta-se contra ti.
E o teu nome ressoado,
que a princípio faz brotar um sorriso dissimulado,
torna-se um tormento,
um grito dificilmente suportado.
Grito, então, em silêncio,
gritos sobrepostos ao teu nome.
E quando me surges alheio à minha luta,
tenho-te já como inimigo.
Não me deixes...
Já não sei estar só!

quarta-feira, outubro 13, 2004

Choro porque te amo

Amo-te e choro...
Sei que serás o meu sofrido fim.
Estendo a mão à morte,
que em breve me visitará aqui onde moro.
Como uma bala irá sangrar-me até à derradeira lágrima,
até ao derradeiro grito,
até ao derradeiro desespero...
Amputada de ti serei enterrada metade,
e de olhos abertos para a escuridão húmida que me cobre o corpo,
esperarei por ti.
Choro porque te amo!

À espera de um beijo

Estou sentada num café sozinha.
As pessoas olham-me mas eu não as vejo;
Estou junto de ti à espera de um beijo.
Tento estar onde estou,
obrigo-me a olhar à minha volta...
a ver as casas, que não são as mesmas que tu vês;
A ver as pessoas, que me olham, que não são as mesmas que tu vês;
A sentir o vento que me acaricia a pele, que não é o mesmo que acaricia a tua...
Não resultou!
Continuo a não estar onde estou;
Estou junto de ti à espera de um beijo.

quinta-feira, outubro 07, 2004

Desassossego

Não sei o que há em mim...
entre as rosas escorre,
de repente, o sangue.

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